quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cumpleaños"Feliz"

Certo dia voltando de uma balada com os amigos, o sol fritando-nos dentro de nossas roupas negras, a caminho da república Joãobergue. Eu e minha amiga May decidimos parar em um mix de boteco,doceira e quitanda,desses estabelecimentos que ainda sobrevivem nos bairros,mas estão desaparecendo nos centros.Despedimos por um momento do restante da galera que foi na frente para a república e paramos neste local.Entrando fomos até o balcão, este feito de madeira muito velha que dava uma certo ar rústico ao local,pedimos duas coca-colas para amenizar o efeito de uma possível ressaca.Começamos a conversar em uma espécie de portunhol, já que eu falo muito mal espanhol e May um péssimo português .Após alguns minutos entra uma família composta de um pequeno garoto,não mais de 9 anos de idade,seu pai e sua mãe,pessoas bem jovens,não aparentavam mais de 26,sentam-se em uma mesa próxima ao balcão,o pai tira do bolso algumas notas amarrotadas,conta-as e pede um bolo de chocolate,destes que vem com granulados e parecem um brigadeiro gigante quadrado.Pede um refrigerante e leva junto com o bolo para a criança na mesa de plástico envelhecida pelo tempo.A Mãe tira da bolsa , uma vela , destas grandes e brancas que usamos somente quando acaba a energia, a colocaram sobre o bolo, pedaço único, possivelmente este o único que os pais puderam comprar.
Os país olhavam para o garoto que reflectia em seus olhos uma felicidade indescritível,o menino olhou para os lados , todas as outras pessoas no recinto estavam de costas para o acontecimento, somente nós observávamos esta bela e trágica cena.O garoto caminhou até nós e pediu que participáramos dos parabéns,cantei junto com a família,May minha amiga mexicana apenas batia palmas e não arriscou dar o ar de sua voz hispanoamericana a canção.A criança muito alegre oferecia pedaços do “bolo” do seu aniversário aos pais,estes que rejeitaram para que pudesse sobrar mais para o filho,também não aceitamos o pedaço,o menino devorou o bolo em questão de segundos.Pegamos uns restos de trocados que tínhamos em nossos bolsos, não dava para muita coisa,olhamos no bar, a parte da doceria, esta que se confundia com bebidas alcoólicas e comidas de aparências desagradáveis,achamos um tipo de ursinho de plástico que vinha com balas coloridas em seu colo, damos este de regalo para a criança que abraçou a May que a esta altura estava com os olhos cheios d'água. Despedimos da família que muito nos agradeceu por partilhar junto com eles daquele grande momento.Caminhamos novamente até o balcão para pagarmos a nossa conta, o balconista , calculou,cobrou e nos deu algumas moedas de troco automaticamente, virou-se de costas,pegou um café e levou para uma mesa que estava um pouco distante de nós.Caminhamos para fora do estabelecimento,passamos pelas mesas,na qual estavam as pessoas que não apreciavam aquele ocorrido, o balconista servia-os automaticamente , sem mirar em seus rostos, saímos do estabelecimento sem falarmos um com o outro, no caminho trocamos apenas alguns olhares,estes que diziam mais que palavras, abrimos o portão e adentramos a escada que dava para a república.

Baseado em uma crônica lida a tempo , se não me engano do Walcir Carrasco. 

Um comentário:

  1. Modesto,
    Devo dizer que fiquei emocionada com a estória.
    Acho que olhares, em momento como esse, tanto o do menino pra vcs, quanto aquele olhar cúmplice entre vcs dois no caminho pra república, são muito mais importantes e significantes do que qualquer palavra, qualquer comentário.

    Que sentimento bom o de ler o seu texto!
    Parabéns pela escrita e pela atitude. =]

    beijo, Simoni.

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